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LiDAR é apenas uma lente — fotogrametria é o método

Por: Rosário Dilo


No meio técnico e académico, é comum encontrar uma comparação que, embora popular, carece de fundamentação científica: “LiDAR vs. Fotogrametria”. Esta oposição é epistimologicamente incorreta por um motivo simples e crucial: fotogrametria não é um sensor, mas uma ciência, enquanto o LiDAR é um sensor.


Fotogrametria: ciência da medição com luz


A palavra “fotogrametria” tem origem grega: “photos” (luz), “gramma” (desenho ou representação) e “metron” (medida). Trata-se de uma ciência e técnica de obtenção de informações métricas e geométricas de objetos a partir da análise de imagens adquiridas por sensores ópticos. Estes sensores podem ser RGB, multiespectrais, hiperespectrais, infravermelhos ou mesmo sensores ativos, como o próprio LiDAR.


Portanto, se um sensor capta dados que serão tratados segundo os princípios fotogramétricos — reconstrução por feixes de luz, geometria de imagem, estereoscopia, e calibração — então estamos no domínio da fotogrametria.


LiDAR: um sensor de medição ativa


LiDAR (Light Detection and Ranging) é um sensor ativo que emite pulsos de laser (feixes de luz coerente) e mede o tempo de retorno após atingir um objeto. Assim como sensores RGB, o LiDAR mede com base em feixes de luz — a diferença está em que o LiDAR não depende da luz ambiente.


O que importa, portanto, não é o tipo de sensor embarcado, mas a técnica de medição e análise que será aplicada.


LiDAR, RGB, Multiespectral: sensores no contexto da fotogrametria


A fotogrametria não se restringe a imagens RGB. Desde que haja um processo de reconstrução espacial baseado em modelos geométricos, interpolação, ou estereoscopia, estamos a falar de fotogrametria. A troca do sensor não implica uma mudança da ciência. Se num drone removemos uma câmara RGB e instalamos um sensor LiDAR, a missão continua sendo fotogramétrica, desde que os dados sejam analisados sob essa perspectiva.


Sensoriamento Remoto: o guarda-chuva maior


Tanto LiDAR como sensores ópticos integram o campo maior do Sensoriamento Remoto, que inclui todas as técnicas de aquisição de dados da superfície terrestre sem contacto direto. Neste contexto, a fotogrametria é uma subárea do sensoriamento remoto, voltada à medição e reconstrução espacial, enquanto o LiDAR é uma tecnologia de aquisição de dados que pode ser usada para fotogrametria ou outros fins (como varredura direta ou mapeamento de vegetação).


Porque a comparação "LiDAR vs Fotogrametria" é tecnicamente incorreta.


Comparar LiDAR com fotogrametria seria o mesmo que comparar uma régua com a geometria. Um é ferramenta; o outro, ciência. A comparação tecnicamente adequada seria entre LiDAR e câmaras RGB (ou outros sensores), ou entre técnicas fotogramétricas e outras formas de reconstrução 3D.


Conclusão


A fotogrametria é independente do tipo de sensor. Ela é uma metodologia fundamentada na medição por feixes de luz, e tanto sensores passivos como ativos (LiDAR incluído) podem ser usados para alimentar essa ciência. Por isso, urge esclarecer que o LiDAR não substitui a fotogrametria, mas sim pode integrá-la como fonte de dados. Que possamos promover mais rigor técnico e menos confusão conceitual na comunidade científica e profissional.


Por: Rosário Dilo

Engº Geógrafo e Cientista de Dados.



 
 
 

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